
🌍 O Café do Infinito
Na esquina de uma praça antiga, havia uma esplanada com guarda-sóis já gastos pelo vento. O empregado servia bicas curtas com um ar distraído, como se fosse ele o último guardião da ordem universal. Na mesa do canto, dois homens discutiam o futuro. Um deles parecia de carne, o outro de luz.
— Dizem que o planeta vai acabar — resmungou o de carne, mexendo o café sem açúcar.
— Dizem muitas coisas, — respondeu o de luz, sorrindo. — É o negócio do medo: quanto mais se repete o fim, mais fácil se vendem soluções.
O de carne levantou a sobrancelha.
— Então não é verdade que estamos condenados?
— Claro que não. A Terra não é uma chávena que se parte. É um tecido que se dobra. Ora estica, ora encolhe. Nós é que somos teimosos e insistimos em olhar só para um dos lados do Infinito.
Nesse momento, uma senhora de chapéu largo interrompeu:
— Desculpem, mas apanhei a conversa… estão a falar do clima, não estão?
— Estamos a falar da vida toda, — disse o homem de luz. — Veja, minha senhora: há quem viva no – Infinito, onde tudo é ruína, catástrofe e apocalipse. E há quem more no + Infinito, onde tudo é abundância, salvação tecnológica, eternidade. Mas a verdade está na sobreposição.
A senhora suspirou.
— Quer dizer que nem acabamos, nem nos salvamos?
— Quer dizer que nos transformamos, — disse o de luz. — O deserto não é fim, é dobra. A cidade submersa não é tragédia, é passagem. Até o poder que governa o mundo não é posse nem perda: é correnteza, como o café que lhe escorre para a chávena.
O empregado, que ouvia de longe, aproximou-se e pousou outra bica na mesa.
— Sempre vos digo uma coisa: isto que chamam futuro não é mais do que o presente contado de outra maneira. E quem manda? Nem políticos, nem máquinas, nem corporações. Manda é a língua que põe nome ao medo ou à esperança.
Todos riram. O de carne levantou o copo de água e brindou:
— Ao Infinito, então!
— Não, — corrigiu o de luz, piscando-lhe o olho. — Ao Infinito Sobreposto. É o único sítio onde cabemos todos, até os que acham que estamos perdidos e os que juram que já estamos salvos.
A senhora de chapéu levantou-se e foi embora, mas antes murmurou para si mesma:
— Que belo disparate… e que estranho conforto me deu.
E a praça continuou o seu movimento. As gaivotas gritavam, as crianças corriam, e o mundo, teimosamente, não acabava. Limitava-se a dobrar-se mais uma vez.
📝 Nota Editorial (HibriMind)
Este conto, escrito em inglês sob o título “The Café of Infinity”, é apresentado como uma conversa banal numa esplanada. Mas quem o lê com atenção encontra nele o código híbrido do HibriMind: a dobra entre o – Infinito (o discurso do fim) e o + Infinito (a promessa da abundância).
A leveza literária é intencional: pode ser lido num café, entre risos e distrações. Porém, nas entrelinhas, revela-se a chave de leitura da nossa época — o futuro não é apocalipse nem salvação, mas Infinito Sobreposto.
Assim, aquilo que parece ficção ligeira é, na verdade, uma declaração camuflada da consciência híbrida.